Um dia farei um poema sobre todos os temas... sobre todos os problemas... sobre tudo.
Vivo em função desse sonho que tornado real sei que abrirá a fenda secreta do chão, aquela que se manteve fechada por todos esses séculos e dela se erguerá o último leitor que caminhará sem dar passos até a área de acesso mais próxima à internet e selará o destino da existência. Eu sei que eu serei o escritor do último poema, o poema sobre tudo e nem quero pensar no depois porque isso nem é da minha alçada, devo somente me dedicar a este propósito, o resto é com o resto dos homens e com o resto dos deuses e demônios.
Eu só tenho que realizar a minha obra.
As 200 mais belas histórias do mundo é um blog onde são publicadas as 200 mais belas histórias do mundo. Textos de Mortimer Só
sexta-feira, abril 14, 2006
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
0800
Como pode um 0800 dar ocupado?
Se fosse para comprar atenderia rápido mas é para receber. Malditas promoções.
Fiquei ouvindo o sinal e percebendo como o ritmo dele matava o meu. Com essa, era a minha sexta tentativa aquela manhã. Manhã cinzenta e sozinha numa casa revirada. Antes disso, havia apelado à internet. Após uma descrição do meu problema com a promoção Credicard, a atendente virtual Sílvia me disse que tentasse o 0800. O mesmo desta manhã e da tarde de ontem e da manhã de anteontem e da tarde do antes de anteontem. Sinal de ocupado, mente vazia. Fui caindo em mim e entrando em um território estranho: limite entre o não-ser e o não-sentir. Eu não existia. As empresas existem para suprir o papel da igreja medieval. Algo pra se temer e pra esmagar pessoas. Diante de um 0800 sou desprezível e me sinto só diante de uma igreja gótica virtual de bolso sem um mínimo daquele arrebatamento arquitetônico. Agora, não tendo ave-maria pra nos ajudar apelamos para o 0800. Ou não - é uma questão de escolha. Na real, não somos nós que temos o 0800, é o 0800 que nos têm. É ele quem diz se vai nos atender, se vai nos dar um caminho... se há salvação. Fora isso, só o vazio da falta de opção - de tentar e tentar e tentar e cair na cama. Uma opção seria Maria, Jesus, Deus, Buda, Maomé. Maomé ainda é uma opção para muitos. Não sei. Uma opção seria o terror, mas o terror já existe... Na empresa que ri de mim, me oferece o papel de mendigo que clama por um atendimento com menos vozes pré-gravadas e por uma promoção que não me roube tanto a dignidade.
Talvez seja assim porque a gente não paga - dizem. Daí, treinam pessoas para serem chatas e para dizerem que você não tem opção. Se o problema fosse pagar, o 0300 deveria ser a solução mas também não é pois você paga e a sensação é a mesma - com o agravante de se estar perdendo dignidade (leia-se dinheiro).
Mas eu falhei, eu falhei. COnfesso a mim já que não tenho a quem confessar (será que estou me convertendo? caramba, que o medo faz coisas incríveis com a gente). Confesso que atrasei o pagamento da fatura. Ligo agora para um 400, ouço a cantilena pré-gravada até chegar a uma opção que me leve ao operador. Antes a voz da empresa me pede que eu espere um pouquinho logo depois de falar com o atendente pois eles querem me perguntar coisas. A empresa quer saber minha opinião. Sinto uma emoção embalada em um papel simples porém amoroso, chamo-a de gratidão. O 9 me leva ao operador, perdão, operadora.
Recebo um torpedo. Que bom. A festa da Uva em Caxias do Sul dias tais e tais, a patrocinadora é a "minha" companhia de celular.
Se fosse para comprar atenderia rápido mas é para receber. Malditas promoções.
Fiquei ouvindo o sinal e percebendo como o ritmo dele matava o meu. Com essa, era a minha sexta tentativa aquela manhã. Manhã cinzenta e sozinha numa casa revirada. Antes disso, havia apelado à internet. Após uma descrição do meu problema com a promoção Credicard, a atendente virtual Sílvia me disse que tentasse o 0800. O mesmo desta manhã e da tarde de ontem e da manhã de anteontem e da tarde do antes de anteontem. Sinal de ocupado, mente vazia. Fui caindo em mim e entrando em um território estranho: limite entre o não-ser e o não-sentir. Eu não existia. As empresas existem para suprir o papel da igreja medieval. Algo pra se temer e pra esmagar pessoas. Diante de um 0800 sou desprezível e me sinto só diante de uma igreja gótica virtual de bolso sem um mínimo daquele arrebatamento arquitetônico. Agora, não tendo ave-maria pra nos ajudar apelamos para o 0800. Ou não - é uma questão de escolha. Na real, não somos nós que temos o 0800, é o 0800 que nos têm. É ele quem diz se vai nos atender, se vai nos dar um caminho... se há salvação. Fora isso, só o vazio da falta de opção - de tentar e tentar e tentar e cair na cama. Uma opção seria Maria, Jesus, Deus, Buda, Maomé. Maomé ainda é uma opção para muitos. Não sei. Uma opção seria o terror, mas o terror já existe... Na empresa que ri de mim, me oferece o papel de mendigo que clama por um atendimento com menos vozes pré-gravadas e por uma promoção que não me roube tanto a dignidade.
Talvez seja assim porque a gente não paga - dizem. Daí, treinam pessoas para serem chatas e para dizerem que você não tem opção. Se o problema fosse pagar, o 0300 deveria ser a solução mas também não é pois você paga e a sensação é a mesma - com o agravante de se estar perdendo dignidade (leia-se dinheiro).
Mas eu falhei, eu falhei. COnfesso a mim já que não tenho a quem confessar (será que estou me convertendo? caramba, que o medo faz coisas incríveis com a gente). Confesso que atrasei o pagamento da fatura. Ligo agora para um 400, ouço a cantilena pré-gravada até chegar a uma opção que me leve ao operador. Antes a voz da empresa me pede que eu espere um pouquinho logo depois de falar com o atendente pois eles querem me perguntar coisas. A empresa quer saber minha opinião. Sinto uma emoção embalada em um papel simples porém amoroso, chamo-a de gratidão. O 9 me leva ao operador, perdão, operadora.
Recebo um torpedo. Que bom. A festa da Uva em Caxias do Sul dias tais e tais, a patrocinadora é a "minha" companhia de celular.
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