domingo, agosto 01, 2010

Nova Deli

Ele ainda não dorme à noite. Não sei o que acontece. Algo mudou quimicamente em seu cérebro. Seu corpo até pede descanso. Pede não, implora. É visível. As olheiras fundas, a cara derretida. Curioso como ele não relaxa. Diz que não pára de pensar. Pensar o que? Em quê? Ele diz que é em tudo. Como alguém pode pensar em tudo? Ele só confirma. Diz que pensa em tudo mesmo - e ao mesmo tempo. O coração anda sentindo as consequências disso. O médico disse que se ele não conseguir reverter esse quadro não sabe como vai ser. Eu também não sei. Ele está mais fugidio que o habitual. Tudo bem que ele nunca foi dos mais sociáveis do mundo, apesar de ser uma pessoa gentil, amável à vista de todos. Não há quem não o elogie nesse sentido. Bom rapaz, sensível. Confiável. Mas pensa demais. Reclama de dores pelo corpo. O braço esquerdo pulsando em dores constantes. De vez em quando surpreendo ele chorando no quarto mas assim que me vê tenta disfarçar. Segura o ombro. Está tudo bem? Então ele diz que sim querendo dizer que não, estou péssimo. Eu já o conheço. Pergunto se não vai sair pra ver os amigos. Diz que não e vai para o quarto. Liga o computador. Vai trabalhar. Acha que me engana. Passa horas ali, lendo e escrevendo. Outro dia fui conferir. Um texto bonito, bonito mesmo. Haviam outras telas abertas. Duas de sites de redes sociais. Frases. Comentários. Outra era do site da Air France. No bloco de anotações do lado do teclado havia uns garranchos. Cálculos. E acho que li o nome N. Deli. Não sei porque me veio um pensamento-resposta: "Tomara que ele consiga."

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