sexta-feira, agosto 27, 2004

Ficção Científica

Podendo se jogou daquele prédio.
Deveria morrer mas não morreu. Foi capturado antes disso.
Foi puxado por um raio-trator que é um habilidoso feixe de cargas tensoativas que (pasmem) reordena a trajetória dos elétrons e (não me perguntem como) estabiliza ions modificando assim a estrutura do ar, ou seja, ele cria uma subdimensão de bolso.
Ele não sabia de nada disso. Tudo que queria era morrer mas quis o destino, a sorte e falhas de comunicação Terra-Ômega 1 que as coisas fossem assim. O raio-trator o espancou de cheio e ele desmaiou no ato qual quem leva um choque (elétrico) muito forte e repentino e cai no chão que nem saco de côcos. Ponto. Outra linha. Terceiro parágrafo.
Acordou numa sala clássica de sci-fi e obviamente estava só. Mas não saia do lugar que estava, e estava no chão, porque sentia seus braços e pernas imantados por uma força invisível mais forte que seu instinto de fuga. Pas-mou de ver entrar na sala de prata dois vultos alongados e de cabeças fornidas saindo da luz da parede e andando no chão sem tocá-lo, no entanto, obviamente.
Vai vendo.
Ergueram seus braços fininhos. Ele estava na frente. Sentiu seu corpo tremer. Seu esfincter a dilatar. Dilatou até doer. Doeu até chorar. Seu esfincter dilatou e ele estava de quatro agora então. Lhe viraram de dentro pra fora e ele não sabe como não morreu. Um puxão no diafragma. Um gelar no intestino. Sair. Sair. Estava se despregando do lugar, com toda certeza. Mas se soltava e andava como uma lesma a deslizar em direção do reto atarantado. Vai sair. Vai sair. Saiu seu intestino. Grosso e delgado. Depois fugiram-lhe o estômago, o pâncreas e o fígado. Ele nem tinha moral de trazê-los de volta. Mas também não lhe deram o direito de morrer. Seu cu pariu muita coisa que estava com ele desde que nasceu. Saíram-lhe ainda o miolo da cabeça e o coração que brigaram entre si, se espremiam e se batiam na desesperada vontade de luz.

Um comentário:

Patricia Daltro disse...

Acho seus textos fantásticos! Fico algum tempo sem aparecer e é sempre uma surpresa gratificante poder ler o que você escreve. O e-mail de protesto contra a sua escrita e o a recusa da editora então, muito bons. Parabéns.