segunda-feira, abril 18, 2005

Marx segundo Freud

Acabaram os copos de plástico.
Alguém tem que descer pra comprar.
Bom, isso foi o que eu entendi na hora. Daí cheguei e fui cuidar a minha mesa. Prefiro ficar longe pro caso do problema vir pro meu lado. Ai. As canetas. Não tem uma caneta sequer na minha mesa. Isso acaba comigo é como se deixasse de ser minha. Mas tem o escondido. O escondido é o santuário onde meus reservados ficam a salvo da horda. Tem uma Lammy e duas Bics. Obviamente optei pela coisa mais barata. Só tinha vermelha e preta. Peguei as duas pra deixar a vermelha (a que uso menos) na Vala e a preta no segundo estagio do escondido. O segundo estágio do escondido é o segundo círculo do santuário onde meus pertences importantes porém mais dispensáveis podem ficar. Um lugar menos protegido que o santuário mas ainda assim de acesso mais trabalhoso que A Vala. A Vala? Purgatório dos objetos. O local mais à vista das águias onde ofereço em sacrifício meus bens de menor valor à essas filhas da puta. Elas vêm de razante sobre minha mesa para sequestrar qualquer coisa em emprestado.
A horda. Cavaleiros do hades. Seres desprezíveis dispostos a tudo para disseminar o caos pilhando em pleno dia a propriedade alheia. Porcos com asas. Se deliciam com as iguarias da Vala e as carregam pros seus ninhos sujos. Onde tudo se perde. Onde a propriedade deixa de ser.
O monturo de arquivos da pasta A está bem maior que o da pasta B. Mal sinal. Que vontade de clicar e arrastar tudo pro limbo. Mas não dá. Dentro da rede todos os passos são monitorados por Fred, o Musgo. Convém ter medo do seu ícone - a cobra preta de chifres vermelhos no canto da tela.
Não entendi bem e peço para repetir. A vaca da mesa 1 me intima para a vaquinha dos copos de plástico. Como deixaram acabar? - me pergunto. E a reserva? Ra, não existe reserva. Olho pra vaca e... não queria ter hesitado, não devia... Será que ela percebeu? Mas também, que importa? Quando lhe dou o dinheiro, ela corre para a horda sem dizer nem "tchau seu otário". Discute-se muito pra terminar com cerveja. Sei bem pra onde vai esse mutirão. O assunto me dá sede e me faz lembrar do meu segredo: eu tenho um santuário. Inatingível até para o Musgo. Nos períodos de escassez, eu sempre sobrevivo. Morrem os lagartos ficam os ratos. Morre a civilização, sobrevivem as baratas. Que fique claro, não sou rato nem barata mas sou sobrevivente. Num lugar onde prevalece a rapinagem, o almoxarifado é só um local para a felação após o almoço. Aqui eu sou reserva moral e é isso que me mantém lúcido em quatro meses sem ver a cor do salário.
Deslizando a gaveta escondida surge um paraíso particular. Entre o kit de primeiros socorros, a garrafinha d água, durex, cola, lápis, lammy e outras coisas... um copo de plástico. Apenas um. Rígido. Não um desses frágeis descartáveis de plástico branco mundano desprezível. É o meu.

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