quinta-feira, novembro 05, 2009

Meus valores, seus valores

Eu, tendo sido estúpido, arrogante e assassino secular...

Fui con-de-co-ra-do.

(aplausos e gritinhos histriônicos no recinto)
(tudo fingimento)

Me perdoem se não paro de rir. Eu sou assim. Se eu não rir vou entrar em convulsão. Sério. Serinho. Mais uma medalha no corpo e já tenho tantas em meu peito que o Presidente da Comissão Homenageosa teve que achar espaço em meu braço direito - o esquerdo não, pois pode dar mal agouro.
Eu adoro festas de concoração pois se bebe muito e pode-se reencontrar amigos. Amigos canalhas que não prestam para nada e tem amantes caras e impacientes. Eu amo as amantes de meus amigos, assim como meus amigos devem amar as minhas cinco também. Finjo irritação e, muitas vezes, acabo ficando irritado mesmo, com alguns garçons e reclamo do serviço mas elogio um ou outro escolhido (geralmente os muito velhos ou os muito novos - aprendi isso lendo Maquiavel). Sou da escola de transição, turma de 83. Tenho orgulho disso. Sentava no meio da sala pois no fundo ou na frente era muita bandeira. Quem sentava na primeira fileira era taxado de puxa-saco, de entreguista e de cu-de-ferro. Os do fundo, levavam a culpa de tudo. Eram os dispersos, os baderneiros, favelados... Eu me sentava no meio. Por bom senso social e autopreservação política, a postura se manteve. Sempre me situo ao centro de tudo com uma certa tendência a copos de uísque na mão, anéis nos dedos e riso didático.
O presidente elabora um discurso elogioso de 55 minutos e 30 segundos. Sou chamado ao microfone e renovo minha gratidão àquela auspiciosa casa de magistrados e... fuck off the rest. Sou um herdeiro de condecorações, medalhas e troféus. Minha família é grande - tanto quanto o diâmetro de nossos quadris, escravos de nosso peso. Minha família é extensa - tanto quanto as terras do nsso espólio e a lista de mortos que nunca se fez nestas mesmas terras que defendemos com a fidelidade de um cérbero.
Cada medalha tem um significado pessoal (extraio essa frase de meu discurso). Cada inimigo que elejo cair e que, efetivamene, cai; cada vitória do fracasso alheio; cada filhadaputa que não seja eu que levo ao umbral do inferno em vida, é um troféu que presentearei a um dos meus eleitos capatazes. Eu também sei honrar a gente do povo.
Há condecorações melhores que outras, há medalhas mais pesadas que outras. São chaveirinhos-brindes, são as canetas que ganho no congresso do meu caráter. As vezes as medalhas pesam o valor dos corpos tombados pela gangue que patrocino. As vezes são leves como as folhas de papéis que assinei e que vão sendo levadas pelo vento pra adormecer dentro dos processos em companhia das traças e da desagragação.
Mas eu represento a transição. Transição para o quê? Para um novo modelo de homem público... mais midiatizado, mais celebrado porque se é mais assassino também é mais didático... mais risonho e mais condecorado... mais público porque mais publicado mas mais privatizado por não ser mais privado.
Eu amo a vida que tenho.
Obrigado, meu Deus.

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