terça-feira, fevereiro 17, 2004

O Nirvana do Indie

Existe uma coisa chamada cultura alternativa.
Vcs sabem o que é isso?
Muitos não conhecem por isso eu vou explicar, se não vai ter gente que não vai entender essa história.
Cultura alternativa também poderia ser chamada de underground mas isso é uma informação que eu teria q checar pois muita coisa andou mudando ultimamente.
Mas não vou fugir do assunto.
Esta forma de cultura é essencialmente composta por coisas que estão fora do padrão do grande mercado cultural e de entretenimento. Portanto, pagode, axé e funk estão fora. Sacaram?
Mas fora mesmo!!!

Dentro deste circuito (vamos chamar de cena?)... Dentro da cena alternativa, existe uma autocensura que visa se preservar da influência perniciosa da Cultura Popular Mercantilista e Emburrecedora. Veja bem, os alternativos não são gente erudita, só não são populares. Não vamos discutir o problema da cultura erudita aqui mas basta dizer que ela é bem mais elitizada que a cultura alternativa. Cultura é um assunto realmente chato, não?

Voltando...

Mateus é indie.
Indie eu não expliquei. É a corruptela de independente, só que em inglês que é a língua-mor da cultura alternativa. Os indies são aqueles que produzem sua própria cultura com referência no que é produzido nas entranhas das duas matrizes da alternatividade: os USA e England. Portanto não é uma coisa pop.
Pois bem, Mateus produzia filmes que pouquíssimos viam, desenhava coisas bizarras que dormiam em sua gaveta ou que eram expostas em lugares que pouquíssimos iam, tocava numa banda que só seus amigos curtiam e gostava e falava de coisas que só seus amigos conheciam. E até mesmo comia coisas que a maior parte da patuléia ignara não comia. Ele não ia ao McDonalds, pra vc ter uma idéia... Mateus, portanto, vivia uma vida alternativa exemplar... Nosso não-tão jovem Mateus...
Sua adoração pelo undergroundalternativoindie era tamanha que lhe dava asco conviver com o inculto, fútil e brega resto do mundo. Sim, isso o enojava... pacas.
Mateus fumava a droga básica da alternatividade... mas teve seus resvalos em chazinhos que lhe deram ondas bem... alternativas.
Basicamente, isto sintetiza a vida de Mateus.
E sua relação com o resto do mundo continuava pior e mais insuportável.

Um dia, no jantar familiar, seus pais lhe falaram algo e ele não entendeu.
Ele lhes respondeu e eles também pareciam não ter entendido.
Curioso.
Saiu à rua, encucado com isso, parou em frente ao boteco e algo lhe chamou a atenção...
Na TV, aquela loura coroa das crianças falava... e ele não entendia.
Pensou estar louco e foi falar com os amigos. Felizmente conseguia entendê-los perfeitamente. Ufa.
Explicou a situação e o Pão, um garoto amarelo que morava na praça de skate disse que com ele também era assim. Nunca revelou isso a ninguém pois tinha medo de ser tachado de louco.
Mateus descobriria com o tempo que a sua situação se repetira em outros moleques de sua rua e de outros bairros. Todos curtiam essas coisas alts e agora faziam parte de um mundo realmente à parte.
A ida ao médico junto com o pai de nada adiantou. Não entendeu a receita do médico (o q mesmo em condições normais já seria muito do normal) e os conselhos que saíam da boca do doutor eram um chiado.
O chiado... este ponto é bem curioso, pois era isto o que Mateus ouvia da boca dos não-alternativos... Um chiado.
Em casa, mexendo em seu ampli (procurava tocar guitarra pra relaxar) as peças se encaixaram... Hamming. As pessoas estavam falando hamming.
Para os não-alternativos explico: hamming é um ruído... como um chiado que sai de uma caixa de som quando não tem um aparelho plugado ou quando o plugue está com defeito.
Faça essa experiência um dia. Comprem um ampli (corruptela de amplificador) e arranjem um cabo de guitarra bem velho. Conectem.
Portanto, pais, atenção para seus jovens e não-tão jovens filhos se eles demonstram não entendê-los ou falam algo que vcs não entendem... Afaste-os da cultura alternativa.

Afaste-os do hamming.


O Soniquiuti Comeu Meu Filho

Cheguei à conclusão que essa tal cultura alternativa é um mal.
Muito mais perniciosa que o axézinho de todos os dias. O Axé tem alegria, gente.
Veja como as pessoas dançam de forma ordenada e levantam seus braçinhos.
Peguei meu filho de 14 anos no quarto ouvindo cultura alternativa.
Vc não sabe o que é cultura alternativa? Sorte sua. É uma porra duns sons maluco que não dá pra entender nada.
Juro... eu tento... sou um pai compreensivo, mas, porra, qual é a graça de ouvir aquele bando de ruído e aqueles filhadaputa gritando???? Isso não é música. Falo isso pra ele e sabe o que ele diz? “pai, toma no cu isso é foda.”
Tem festa no playground? Ele não vai.
Os meninos chamam pra jogar bola? Ele não vai.
Tem churrasco no quintal? Ele prefere ficar no quarto. Ouvindo um tal de Soniquiuti.
Pra ele Soniquiuti é Jesus Cristo. Outro dia ele falou isso na mesa e desci-lhe a mão. Porra, Jesus não, vai tomar no teu cu. Pra ele tudo que não é Soniquiuti é babaquice.
Soniquiuti é o caralho – eu penso, mas não falo... Dizem que não ajuda se eu der esporro no moleque mas, porra, é de fuder aquela música. Minha pressão sobe.
Exceto pelo videogame, meu filho não é um cara normal. Pra mim, ou ele é boiola ou é doido. Os dois, talvez.
Pra vc ver como é doido esse garoto: prefere ouvir vinil que cd. Chega do colégio cheio daquela velharia que compra na rua com um mendigo. Só não mato esse mendigo pq é pobre. E hoje em dia matar pobre dá a maior merda. Bando de ONGs filhasdaputa.
Tem mais... Meu filho com certeza fuma maconha. Depois que passou a ouvir essa porra, o cabelo dele cresceu, tá um traste. É... com certeza fuma maconha.
Por mim, a maconha ele podia até fumar mas ouvir a porra do do soniquiuti é que é foda.
Morte ao Soniquiuti.

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