segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Ritual de Purificação

Um suco de laranja.
Nenhuma miligrama de açúcar.
Nenhum gelo. Nem água.
Só o suco. Puro. Purinho.
Apresentei o copo com líquido amarelo ao copo com o líquido escuro...
Sentei-me em frente pra assistir a conversa dos dois. Me concentrei.

Estou em cima de uma nuvem. Do alto vejo os fatos da noite passada.
3 bêbados carentes arremessam meu corpo ao chão de um palco sujo. Alguém toma meu microfone e acho que grita “ruoquenruol”. Chapam minhas costas, já não sei se era parede ou chão mas sei que torci minha perna. Eu não sorria. Mas também não sentia nada. Apenas peso e gravidade. Soterrado.

Um copo era laranja e o outro era escuro.
Um era frio e o outro bem quente.

Levantei-me como pude escalando a massa de corpos. Eu não sorria. Devolve isso. O microfone é meu. Gritei na tentativa inútil de demonstrar meu desafeto. Olhei meus dedos de sangue nos fachos de luzes piscantes - alguém devia ‘de’ proibir isso. O sangue vinha da minha boca. Machucado e magoado voei até a nuvem mais próxima e deixei que o caos tomasse conta do resto. Lá no alto não havia ninguém. Pensei em descer e salvar a menina. Mas eu estava cansado e ela já não estava mais lá. O palco fora tomado. Tudo era um zumbido e só.

Tomei o copo escuro.
Senti seu gosto amargo...

Zumbido...

Tomei o copo laranja.
A pureza existe, nem tudo é sujo e minhas costas doem.
Acho que acordei.



Ritual de Purificação (ERRATA)

Onde se lê:
Tomei o copo laranja.
A pureza existe, nem tudo é sujo e minhas costas doem.
Acho que acordei.

Leia-se:
Inoculo o líquido escuro e quente no laranja.
Assisto a mistura e bebo. A pureza não existe.
Volto à minha cama.

Nenhum comentário: