quinta-feira, julho 08, 2004

Desafios. Auto-exame.

Desafios

Trouxeram o mímico pra festa.
Uma marreta também.
Marretaram suas mãos e pediram que imitasse um frentista.
Foi hilário o jeito como ele imitou a mangueira.
Aplausos.

O melhor judoca da escolinha.
Vendaram seus olhos e pediram q andasse pela sala. Foi grande a desilusão do mestre quando viu que o menino não evitou os pregos no chão. "Onde está seu conhecimento shao-lin?"

Escultor rebelde fez obra gigantesca.
20 metros. Cinco anos para concluir.
Ao lado, o Palácio do Governador.
No dia da inauguração apertou um controle e a obra implodiu, soterrando todos. Morreu mas entrou para a história inaugurando a terror art.

Escultor já velho e decadente.
Conheceu dias melhores.
Mandou um quadro para o Governador.
Cinco meses depois o quadro explodiu causando baixas na administração.
Seu autor está foragido. Entrou para a história inaugurando a Bomb Art.

Arrancaram a língua do mímico.
Veja só. Pediram q imitasse um assalto.
A parte mais engraçada foi quando ele passou a carteira.
Aplausos e gritos.

Dois mil e quatrocentos piercings no rosto.
Todos furados ao mesmo tempo.
Ficou cego. Foi sua mãe quem leu as manchetes para ele na cama do hospital. Depois, dormiu.

Tomou 20 comprimidos de Viagra de uma só vez.
Morreu mas entrou pra história com a mais duradoura ereção post-mortem do mundo.

Imitando um rato, o mímico criativo fez o povo rir.
A língua era o queijo e os dedos cambaleantes, os dentes.

O pupilo se atirou do alto do promontório e o mestre e os outros alunos o viram se estatelar nas pedras do mar. Mais uma vergonha para o mestre shao-lin.

Atiraram 150 utensílios de informática pela janela esmagando vinte pessoas e ferindo umas dez. Vigésimo sexto andar. O processo foi filmado e será objeto de uma palestra sobre "movimentos transgressores do séc. XXI".

O mímico sem braços agora imita um praticante de esqui.
Dona Gerza, a mãe, chora... e ri com o talento do filho.

Invadiram o prédio e atiraram 150 crianças pela janela como manifesto contra a fome e a miséria...
O mundo parou. Na reunião de cúpula da ONU tomaram uma decisão: impedir a entrada de crianças nos prédios comerciais.

Agora o mímico imita um carpete.
Arranca lágrimas da platéia.
Foi seu último número.


A Rainha do Auto-exame

Esta é a história de uma mulher... uma brava mulher que percebendo os descaminhos da sociedade subserviente às máfias da saúde luta bravamente para se automedicar.

Ginecologistas. Que raça... Sempre os mesmos problemas. Custos altos quando fora do plano. Dentro do plano vc encontra confiança? Mulher, vc confia no ginecologista q te atende? Existem, é claro, bons profissionais. Existem. Si. Ó Sim. Existem. Onde estão que eu nunca os encontrei. Pois se começam bem terminam mal. Eu não quero nenhum pulha me manipulando com seus patos de aço inox. Um alisava minhas pernas e dizia pra relaxar. Dedos nas luvas de corpos com faces que escondem objetivos lascivos e cruéis. Chega. Ela não quer mais isso. Ninguém mete a mão ou outro troço qulquer na minha vagina. Ninguém além dela.

Do homem das televendas teve que ouvir a ameaça deslavada: "a senhora prefere então ser atendida pelo sus?". Agitou-se de ódio do outro lado da linha. A orelha se avermelhou e tinha ganas de matar. Desligou o telefone na cara do sujeito que ainda tentou lhe convencer que o melhor a fazer era mudar-se para o plano com a maior cobertura do Brasil. Era isso ou ir pro Saúde Zero. Na terceira tentativa do telechantagista respondeu: "então amigo, farei meu próprio exame. vai à merda." E dito isso saiu do plano.

Comprou coisas q só deviam ser vendidas para doutores. Comprou com a benção de Jerson, q é assim no Brasil q tudo se consegue. Metais brilhantes e novos, espelhos. Tava doidinha pra usar. Com as economias que fez com a mensalidade que deixou de pagar foi montando seu consultorio particular. Inaugurou o "quarto do exame" sozinha, como tinha que ser. Botou uma música bem JB FM.
Principiou-se ali os trabalhos.
Pernas abertas, roupa branca. Uma bela e confortável cama. persianas chinesas.
No primeiro exame parecia tudo normal com a xereca. Carnes róseas e molhadas mas a princípio bem lisas. Era desconfortável. Isso era... mas menos constrangedor do q nos tempos de plano.
(continua depois)

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